Os processos de transformação e desenvolvimento das cidades podem, muitas vezes, acarretar efeitos colaterais ou imprevistos quando o caráter desses movimentos é autônomo e não planejado. Esses resultados nem sempre são positivos, e podem representar o desencadeamento de fenômenos como a gentrificação, que pode se tornar um verdadeiro problema social, prejudicando diretamente a população de menor renda. Apesar disso, também é evidente que algumas transformações usualmente relacionadas a tal fenômeno podem significar melhorias e reativação de espaços subutilizados nos centros urbanos, e o limiar entre esse cenário enquanto virtude ou problema é um contínuo tema de debate entre arquitetos e urbanistas.
Por ser um tema que gera divergências e polêmicas e de difícil conceituação, é necessária uma constante atualização e leitura a respeito de como a gentrificação afeta as cidades ao redor do mundo e das formas possíveis de lidar com esse processo que parece irremediável nas discussões sobre cidade na atualidade. Para estimular o debate e contribuir com a formação de opinião a respeito do assunto, reunimos uma seleção de 13 artigos que apresentam visões diferentes a respeito do assunto, além de exemplos de suas causas e potenciais soluções adotadas em diferentes cidades.
Tudo o que causa a gentrificação, de A a Z
O artigo explora um alfabeto inteiro de aspectos que podem ser entendidos como causadores da gentrificação. De cafés e galerias à internet e smartphones, da presença de artistas à influência do mercado financeiro, do declínio da criminalidade à influência simbólica do High Line de Nova Iorque, a lista inclui uma infinidade de causas para "apontar o dedo".
Placemaking vs gentrificação: a diferença entre requalificar e elitizar um espaço público
A noção por trás da placemaking foi originada nos anos 1960, quando escritores como Jane Jacobs e William H. Whyte passaram a desenvolver ideias inovadoras sobre a criação de cidades que atendiam às pessoas, focando na importância de bairros vivos e convidativos. Já o termo gentrificação foi cunhado em 1964 pela socióloga britânica Ruth Glass para descrever o fluxo de pessoas da classe média que deslocou moradores de classe baixa de bairros urbanos. A socióloga ilustra a gentrificação ao citar o exemplo do bairro de Islington, no norte de Londres, onde modestos e velhos chalés foram tomados quando suas licenças expiraram e transformados em residências elegantes e caras.
Dicionário Iphan do Patrimônio Cultural: o que é "gentrificação"
O vocábulo “gentrificação” é um aportuguesamento do inglês gentrification, usado pela primeira vez, provavelmente, pela socióloga britânica Ruth Glass na obra London: aspects of change (1964), onde a autora descreveu e analisou determinadas mudanças na organização espacial da cidade de Londres. O termo ganhou popularidade após seu uso em trabalhos acadêmicos sobre a temática, acompanhando um fenômeno urbano presente em diversas temporalidades e espacialidades: o deslocamento, processual ou súbito, de residentes e usuários com condições de vida precárias de uma dada rua, mancha urbana ou bairro para outro local para dar lugar à apropriação de residentes e usuários com maior status econômico e cultural.
O perigo da “gentrificação verde”
“Iniciativas de recuperação ambiental são sempre positivas, mas precisam ser analisadas de uma forma mais ampla. Elas melhoram as condições ambientais do bairro, mas geram a gentrificação verde, o que é extremamente negativo”, disse Tammy Lewis, professora de Sociologia e Ciências Ambientais e da Terra na City University of New York (CUNY).
Gentrificação: envergonhar-se não basta
Já falamos anteriormente sobre gentrificação, o "processo de expulsão de populações socialmente vulneráveis das regiões urbanas centrais", como coloca López Morales. Embora ocorra há décadas no hemisfério norte, a análise de seu impacto é relativamente nova na América Latina, assim como seus causadores e consequências variam em função de cada cidade.
“Gentrificação Latinoamericana”: uma oportunidade para a inclusão?
Nos primórdios, o uso desta palavra fazia alusão principalmente aqueles bairros que historicamente concentraram imigrantes, pobreza e criminalidade, e que dado a sua mutação sócio-espacial terminam convertidos em centros boêmios, onde abunda a arte, o design e a vida noturna. Exemplo deles são: o Soho, Nolita, Tribeca ou Village em Nova Iorque, East End em Londres, Pobleneu em Barcelona e San Telmo em Buenos Aires.
Precisamos falar sobre Gentrificação e Ecossistemas de Inovação
O objetivo deste post é refletir sobre como americanos e alemães estão enfrentando a questão, cada um à sua maneira. Além disso: que lições podemos tirar dessas experiências, visto que este pode vir a ser um problema de cidades brasileiras que vem se destacando no cenário nacional de empreendedorismo e inovação?
Gentrificação: os perigos da economia urbana hipster
Nesse artigo, publicado originalmente em Al Jazeera como "The peril of hipster economics", a escritora e pesquisadora estadunidense Sarah Kendzior escreve que a deterioração urbana em alguns bairros das principais cidades do mundo se converteu lamentavelmente em um conjunto de peças urbanas a serem "remodeladas ou idealizadas" pela gentrificação.
Ficção imobiliária 3: a gentrificação será televisionada
Nesta colaboração, o coletivo espanhol Left Hand Rotation apresenta o encerramento da trilogia Ficção Imobiliária, um relato cinematográfico sobre filmes de diversos estilos e diferentes épocas, mas todos relacionados com temas que tratam sobre moradia: especulação imobiliária, processos de gentrificação e consequências da globalização na cidade contemporânea.
Como os empreendedores transformaram o grafite em um Cavalo de Tróia para a gentrificação
Ultimamente, os grafites tornaram-se cada vez mais sancionados pelo governo. Iniciativas de arte pública protegidas, como Open Walls Baltimore eVenice (Beach) Public Art Walls , são pontos de referência dignos de peregrinação. Originalmente destinado a desencorajar a destruição de propriedades privadas, esses centros de arte de rua são os novos Cavalos de Tróia das revitalizações.
Barcelona aumentará a construção de habitação social para lutar contra a gentrificação
A cidade de Barcelona permanece firme em sua luta contra os processos especulativos e a gentrificação que atualmente estão aumentando a desigualdade de oportunidades que a população encontra para acessar uma moradia digna e economicamente viável. Neste sentido, a Comissão de Ecologia, Urbanismo e Mobilidade da cidade de Barcelona aprovou inicialmente dois novos instrumentos urbanísticos para abordar o problema do acesso a moradia digna e proteger o equilíbrio social dos bairros, respondendo às demandas promovidas por entidades como a Federação das Associações de Moradores e Vizinhanças de Barcelona (FAVB), Plataforma de Atingidos pela Hipoteca (PAH), Observatório DESC, Assembleia de Bairros de Turismo Sustentável (ABTS) e Sindicato dos Inquilinos.
Bjarke Ingels: "Gentrificação não é só negativa, também é o motor para a redefinição do urbano”
Sobre as cidades do século XXI e o caso das grandes empresas de tecnologia que contratam escritórios - dentre os quais o BIG - para projetar suas sedes em áreas isoladas, Ingles advoga a favor de uma reinvenção do urbano, dizendo que "a cidade é muito mais. Uma porcentagem muito pequena mora no centro. Essas empresas não nasceram nas cidades, e isso abre um mundo a se explorar que me interessa."
É possível construir uma sociedade mais justa através da arquitetura?
Uma cidade que oferece melhores oportunidades socioeconômicas, não deve preocupar-se apenas com regulamentação das dinâmicas das forças de trabalho, mas em garantir que a cidade a qual se promove este acesso amplo e irrestrito-, seja capaz de suportar equilibradamente a convivência dos mais diversos padrões socioeconômicos, evitando o desdobramento de processos de gentrificação. Um espaço urbano compacto é geralmente mais eficiente e democrático, uma vez que a localização é o principal elemento integrante do valor do solo urbano e consequentemente, definidor das condições de acesso à cidade.